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Dieese mostra que quanto mais fortes os sindicatos, maior a resistência.

Em 2016, melhores acordos salariais vieram de negociações por categoria e não por empresa, comprovando que quanto mais unidos os trabalhadores estiverem, melhores os resultados das negociações

O desenrolar do golpe em 2016 afundou o Brasil na crise econômica e a classe trabalhadora sentiu na pele os resultados.  Apenas 19% das negociações conquistaram aumento real de salário, equivalente ao pior índice já visto, em 2003, ano em que o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) passou a computar sistematicamente esses dados, gerando uma série histórica.

De acordo com o balanço apresentado pelo departamento, 37% dos acordos ficaram abaixo da inflação e 44% igualaram. Já a variação real média de 2016 ficou negativa (-0,52%), outro resultado que não era visto há 14 anos.

Também em 2016, houve ampliação na quantidade de reajustes salariais parcelados. Entre 2008 e 2013, essa modalidade de aumento oscilou entre 4% e 5%. Já em 2016, repetiu a tendência de 2015 e dobrou, atingindo 30% das negociações.

Mas a situação poderia ser ainda pior. No recorte por tipo de negociação entre aquelas que obtiveram reajuste salarial é possível verificar que as negociações coletivas (por categoria) dão um banho nos acordos coletivos (por empresa): 85,9% para a primeira contra 14,1% para a segunda.

A vitória da luta por categoria ocorre justamente porque categorias como bancários e metalúrgicos conduzem negociações em âmbito nacional, por meio de confederações, ou mantém forte presença no local de trabalho e amplo diálogo com os empregadores.

Em suma, quanto mais ampla for a organização dos trabalhadores, maior o poder de barganha e a capacidade de alcançar resultados positivos, como aponta o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre.

“Não é por acaso que os golpistas tentam a todo custo quebrar as entidades sindicais e votam a toque de caixa a Reforma Trabalhista e a Terceirização que têm como objetivos tirar direitos. fragmentar e fragilizar a organização da classe trabalhadora. O objetivo deles é facilitar a vida dos patrões para que possam elevar o lucro à custa da exploração e piora nas condições de trabalho”, criticou Sérgio.

A visão é compartilhada pelo técnico do Dieese, Luís Ribeiro que faz um alerta: se a terceirização, como aprovada pelos deputados federais e sancionada pelo ilegítimo Michel Temer (PMDB), avançar, a tendência é que as campanhas salariais fiquem cada vez piores.

“As negociação por categoria, que envolvem mais sindicatos, tem resultado mais favorável há muitos anos. Se a terceirização for implementada e os sindicatos ficarem enfraquecidos, com um crescimento dos processos de negociação por empresa, dividindo as categorias, muito provavelmente teremos queda na renda da classe trabalhadora. Quando mais organizadas as categorias e mais abrangentes são acordos e mais fortes as negociações”, falou Ribeiro.

Serviços – Não por acaso, o setor que mais enfrenta problemas com a terceirização foi também o que teve o pior resultado. Quase a metade das negociações registrou reajustes abaixo da inflação e esse foi também o segmento que teve a maior perda real média, 0,64% abaixo da inflação.

“Neste segmento há grande pulverização nas negociações, só escapam mesmo as categorias mais fortes, como a bancária, que tem negociação nacional. Mas muitas têm dificuldade devido à precária relação de trabalho e à fragmentação”, avalia.

O cenário é confirmado pelo presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços, Alci Araújo: “Em setores terceirizados de cidades como Cubatão, Mauá e Rio Grande do Sul, a administração pública contratar terceirizadas, não repassa os valores para manutenção de contratos de serviços e os trabalhadores sequer recebem o salário do mês. Então, antes mesmo de discutir reajuste, lutamos para acabar com esse cenário”, apontou.

O que pesou

No processo de negociação, o Dieese avalia que a inflação é um fator primordial, mas em 2016 ano a confiança fragilizada pelo golpe foi mais relevante, responsável por impactar diretamente os investimentos dos empresários, foi preponderante.

“No ano passado a inflação vinha em queda, mas o desempenho das negociações foi muito ruim, comparada a anos anteriores. Acreditamos que isso se deva em grande parte à queda do PIB em todos os setores e ao desemprego altíssimo, que impacta muito.  O medo de investir e foi um limitador nas discussões dos empregadores com os trabalhadores, assim como a falta de investimento público na economia, que gera incertezas gerais”, analisa Ribeiro.

Fator democracia – Presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Paulo Cayres, negociou no setor que teve o resultado menos desfavorável dentro do segmento  indústria. Quase um quarto das negociações não obteve aumentos reais e 17% das negociações registraram reajustes abaixo da inflação, o menor do setor. Mas os reajustas acima de inflação tiveram variação real média negativa (-0,48%).

“Numa época de crise, o poder de barganha ficar reduzido, porque o trabalhador fica com medo de perder o emprego. O empresário baixa a margem de lucro, mas não deixa de ter e é inconcebível não repassar a inflação.  O problema é que o empregador trata o trabalhador como custo em ao como investimento, ainda que tenhamos uma mão de obra muito barata, o salário brasileiro hoje se nivela ao chinês”, criticou.

Outro ponto essencial dessa equação, avalia Cayres, é o fator democracia. “O golpe faz com que as instituições democráticas deixem de funcionar como deveriam e mesmo que você tenha uma apelação dos trabalhadores em dissídio, sempre acabam perdendo. Isso também influencia e o ataque que acaba se fortalecendo contra direitos dos trabalhadores.”

“O trabalhador não tem outra alternativa a não ser sair às ruas para defender seu salário, seu emprego e de toda sua família. A fragilização dos direitos e das organizações sindicais é o que pode acontecer de pior para quem não é dono da empresa. Por isso, vamos todos à greve geral no dia 28 de abril”, convoca Sérgio Nobre.

 

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