Em nossa série de artigos sobre a CUT-SP na COP30, já vimos que as emergências climáticas e seus eventos meteorológicos cada vez mais extremos e mais frequentes – como furacões, nevascas, secas, ondas de calor, tempestades – geram uma série de impactos negativos na biodiversidade, na economia e no mundo do trabalho.
Focando nossos debates sobre o mundo do trabalho, temos que os impactos das emergências climáticas se dão principalmente de 3 modos: Aumento e/ou sobrecarga na demanda de enfrentamento de eventos extremos; Impactos na saúde do trabalhador advindos de efeitos de crises climáticas e/ou ambientais; Desemprego por conta da necessidade de reformulações na cadeia produtiva em setores de alto impacto ambiental.
Abaixo relacionamos os alguns setores e ramos impactados, bem como descrevemos brevemente alguns impactos à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras gerados pelas emergências climáticas.
AUMENTO E/OU SOBRECARGA NA DEMANDA DE ENFRENTAMENTO DE EVENTOS EXTREMOS
- Os/as trabalhadores/as do setor de água e esgoto enfrentam ameaças aos recursos hídricos, devido às secas que tornam as cidades e vilas difíceis de abastecer ou a infraestruturas sobrecarregadas devido às cheias, tendo o importante papel de estabelecerem as melhores políticas públicas para mitigar tais situações;
- Os/as profissionais de saúde são sempre fundamentais e serão ainda mais gravemente afetados/as pelo aumento e disseminação de doenças; pelo aumento de feridos e mortes causadas por emergências climáticas, como tempestades, inundações e incêndios; e pelo aumento dos problemas de saúde, uma vez que secas e inundações afetam a disponibilidade de alimentos;
- Os/as trabalhadores/as do setor de emergência – defesa civil, bombeiros, resgate, paramédicos, etc. – enfrentarão o aumento em sua demanda ao terem que lidar com emergências climáticas cada vez mais frequentes e intensas, como tempestades, inundações, incêndios florestais, etc;
- Os/as trabalhadores/as dos governos municipais devem lidar com as crescentes enchentes e secas, com os problemas ambientais decorrentes das crises ambientais e com a necessidade de estabelecer medidas que ajudem as comunidades a se adaptarem às crises ambientais;
- Os/as trabalhadores/as dos setores de seguridade social que irão realizar as perícias, cálculos, memorandos, instrutivos para a garantia do bem estar social de trabalhadores/as dos setores em transição e de comunidades atingidas pelas crises ambientais;
- Os/as trabalhadores/as dos serviços de proteção ambiental terão que lidar com enormes demandas, já que quanto menor a disponibilidade de recursos naturais maior a pressão e a disputa por aquisição e exploração de tais bens;
- Os/as trabalhadores/as em todos os serviços públicos deverão responder paulatinamente aos deslocamentos populacionais induzidos pelas emergências climáticas.
IMPACTOS NA SAÚDE DO TRABALHADOR ADVINDOS DE EFEITOS DE CRISES CLIMÁTICAS E/OU AMBIENTAIS
- Calor Excessivo: impacta principalmente setores que realizam atividades em ambientes externos e em espaços interiores, em locais de trabalho mal ventilados e sem climatização. Atinge pessoas que trabalham na agricultura, produção de bens e serviços ambientais (gestão dos recursos naturais), construção civil, recolha de lixo e saneamento ambiental, trabalhos de reparação de emergência, transportes, entregas, turismo e desporto. Os impactos primários na saúde vêm por meio de stress térmico, insolação, exaustão pelo calor, rabdomiólise, síncope térmica, cãibras térmicas, erupção cutânea pelo calor, doenças cardiovasculares, lesão renal aguda, doença renal crónica, lesão física;
- Radiação Ultravioleta (UV): problema que também afeta pessoas que trabalham em espaços exteriores, como construção civil, agricultura, assistência a banhistas, profissionais dos serviços de energia, jardinagem, distribuição postal, trabalho portuário e setor de entregas. Os impactos na saúde vêm por meio de queimaduras solares, lesões na pele e oculares agudas, sistemas imunitários enfraquecidos, pterígio, cataratas, cancros da pele, degeneração macular;
- Eventos Meteorológicos Extremos: como inundações, secas, incêndios florestais e furacões afetam profissionais da saúde, bombeiros, pessoal de emergência, da construção civil e de operações de limpeza, da agricultura e pescas;
- Poluição e Qualidade do Ar nos Locais de Trabalho: podem provir de fontes internas como bolores e compostos orgânicos voláteis, ou emitidas pelos edifícios para o ar exterior e afetam todos os trabalhadores e trabalhadoras, em especial em atividades no exterior, no setor dos transportes e combate a incêndios. Os impactos na saúde vêm por meio de Cancro (pulmão), doença respiratória, doença cardiovascular.
- Doenças Transmitidas Por Vetores: como mosquitos, carrapatos e pulgas que levam consigo parasitas, vírus e bactérias atingem pessoas que trabalham em espaços exteriores, nomeadamente na agricultura e produção florestal, paisagistas, pessoal de jardinagem, em atividades de pintura reparação de telhados e pavimentos, na construção, bombeiros, etc. Os impactos vêm por meio de malária, doença de Lyme, dengue, esquistossomose, leishmaniose, doença de Chagas, entre outras.
- Produtos Fitofarmacêuticos: como pesticidas e agrotóxicos que atingem trabalhadores da agricultura, da indústria química, da produção florestal, do comércio de pesticidas, em espaços verdes, e no controlo de vetores. Os impactos na saúde vêm por meio de envenenamento, cancro, neurotoxicidade, problemas endócrinos e reprodutivos, doenças cardiovasculares doença pulmonar obstrutiva crónica, imunossupressão.
DESEMPREGO POR CONTA DA NECESSIDADE DE REFORMULAÇÕES NA CADEIA PRODUTIVA EM SETORES DE ALTO IMPACTO AMBIENTAL
- Energia: Setores baseados em combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) enfrentarão declínio devido à necessidade de descarbonização.
- Indústria de Transformação e Manufatura: produção de materiais como cimento, ferro e aço, precisará de processos de baixo carbono e maior eficiência energética;
- Transporte e Logística: setor, que depende fortemente de combustíveis fósseis, precisará de uma mudança de paradigma.
- Agropecuária: atividade com práticas insustentáveis, como o desmatamento, o uso excessivo de recursos hídricos, o uso de agrotóxicos e a grande emissão de metano por gado ruminante serão pressionadas a mudar.
- Construção Civil: Métodos tradicionais que geram muitos resíduos e consomem muita energia precisarão ser revistos.
Neste sentido, os trabalhadores e trabalhadoras dos ramos afetados pelas emergências climáticas já devem, junto aos seus respectivos sindicatos, incluir as questões ambientais e climáticas como pontos de pautas em mesas de negociação para o estabelecimento de protocolos que deem salvaguarda aos seus direitos na perspectiva da transição justa.
Este é o caso, por exemplo de profissionais de saúde e dos setores de emergência, que podem, por exemplo, exigir a contratação de mais profissionais para dar conta do aumento de demanda ao terem que lidar com emergências climáticas cada vez mais frequentes e intensas. Outro exemplo é o setor de agricultura, de gestão dos recursos naturais e de construção civil, que podem estabelecer protocolos de negociação que estabeleçam “pausas de emergência” ou interrupção de trabalho” em caso de temperaturas extremas.
Também devem, junto aos sindicatos, federações, confederações e junto à Central Única dos Trabalhadores influenciar políticas públicas, por exemplo de reconversão de empregos de setores poluentes e degradadores para novas cadeias produtivas de menor impacto ambiental. Este, por exemplo, é o caso dos trabalhadores dos setores de energia baseada em combustíveis fósseis, que, ao menos em parte, podem ser contemplados por políticas públicas de formação e recondução profissional pra setores de energia renováveis. Também pode ser o caso de trabalhadores do setor da agropecuária adoecidos pelo contato com agrotóxicos, que podem ser contemplados por políticas especiais de saúde e seguridade especiais.